sábado, 12 de maio de 2007

PRANTO DE MORTE E FOME

Caiu o sol.
A memória vem longa.
A cacimba arredonda a noite.
O fogo já nem tem brasas.
O frio sacode os paus da cubata.
Caiu também o vento.
As marés, exangues, caminham errantes pelo areal.
As lágrimas com sal,do muito penar, estão tintas de sangue.
Choram baixinho entre búzios perdidos.
Os tantans da guerra, trazem à praia
cardumes de cadáveres mutilados nas lutas fratricidas.
Uma criança chora perdida no areal.
O areal está deserto.
Mataram o Tempo.

Chora, Poeta de Dakar.
Calaram cerce o teu canto.
As correntes soam de novo a arrastar.
Pior que a amargura,
o troco e o colono,
é a sede, a fome,
mais o abandono da tua raça que morre.
É de lágrimas o meu pranto,
mas é de morte o teu canto.
Enterraram a negritude:
- Poeta Velho de Dakar!
A Morte também não tarda e não é negra.
É parda!


Alberto David

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