domingo, 17 de agosto de 2008

UM SONHO TORNADO REALIDADE

ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS



BREVE INTRODUÇÃO


A China é hoje, indubitavelmente o país do mundo com a mais longa história contínua. Aqui poderá encontrar a mais elementar informação sobre o Império do Meio, Zhong Guo, cuja civilização e cultura influenciou todos os países vizinhos, como a Coreia, o Japão e a península da Indochina.É importante recordar que a este multimilenar império se devem a invenção do papel, a descoberta da seda, do magnetismo e, por inerência, da bússola, da pólvora, dos caracteres móveis que permitiram a impressão de livros e a acupunctura.No seu período de unificação, sempre dentro da região da bacia do Rio Amarelo, Qin Qi Huang (leia-se Chin Chi Huang) unificou a China, dando-lhe esse nome para o ocidente pela leitura do seu apelido Qin (Chin = Chim = China). Já em pleno séc.III AC, com a magnificência idêntica à dos egípcios, o imperador fazia-se enterrar com o seu exército de terracota.Tal era já, a escala dos exércitos que nos perídos anteriores travavam batalhas com centenas de milhares de soldados.Durante a Dinastia Han, o Budismo chega à China por volta do ano VI (sec I DC).A China foi o destino da fabulosa Rota da Seda e com ele chegam a Chang An (longa paz) árabes, persas, judeus, nestorianos. No século VII os Tang sobem ao poder e assiste-se em Chang An ao esplondoroso renascimento da cultura chinesa, convergindo para a capital estudantes Coreanos e Japoneses, ansiosos por estudar a matriz das suas próprias culturas. Coreanos e Japoneses têm acesso a cargos da Administração chinesa, num gesto inaudito.
Assim era a corte dos Tang cujos trajes e estilos de penteado iriam influenciar os trajes da Coreia e dar origem ao Kimono japonês modificado na sua versão inicial do período Heian (794-1185) da Antiguidade nipónica.Isto dito, Zhang Yimou o grande cineasta chinês, produziu um esplendoroso espectáculo num momento onde uma nova China, indubitavelmente controversa, mas possuídora de um projecto de país, faz a sua afirmação como grande potência a equilibrar o mundo.
O rolo de papel onde simbolicamente assenta toda a cultura chinesa, suporte para a escrita caligráfica e para a pintura, serve de outro palco a todo o desenrolar do espectáculo.Embora não se evoque no espectáculo, não podem ser esquecidos nomes como Lao Tsu o fundador do Taoísmo e autor do Tao Te Qing (séc.VI AC) e Sun Tsu (séc. VI AC) o autor do mais antigo manual militar, A Arte da Guerra ambos escritos ainda em tiras de bambu atadas entre si, já na forma de rolo.

De extraordinária beleza austera, 3.000 discípulos de Confúcio (também do séc. VI AC) desfilam com os rolos de bambu contendo os quatro clássicos.Confúcio e os seus ensinamentos, entre os quais os Analectos, vem estruturar a sociedade chinesa de forma definitiva, dando ao colectivo importância superior ao individual, e lembrando os deveres de todas as classes, entre os quais o respeito pelos mais velhos, os deveres dos pais para com os filhos e dos filhos para com os pais. Ainda hoje, cada aldeia mantém no seu templo um livro de descendentes, verdadeira árvore genealógica, permitindo a cada chinês saber, ao longo dos séculos, quem foram os seus antepassados. Esta teia familiar é ainda hoje de extrema importância na organização e estruturação dos imigrantes chineses.Mas aquela que seria porventura a mais importante contribuição de Confúcio quase no seu tempo, foi o novo conceito que deu à palavra nobre. Confúcio definiu como Guan Zi o verdadeiro nobre, o homem superior. Esta revolução iria originar algo que é geralmente pouco conhecido: os exames imperiais.Perante a definição de verdadeiro nobre, todas as classes sociais passam a ter acesso à Magistratura, depois chamados pelos Portugueses de Mandarins. Durante as dinastias subsequantes à unificação Qin os exames estabelecem-se permitindo que de todos os cantos da China e de todos os graus sociais venham os versados nos Quatro Clássicos para prestarem exames e assim poderem aspirar a um cargo dentro do Império.

Toda a cultura chinesa e o seu modo de expressão são simbólicos. Tendo sido sempre um país onde o colectivo é superior ao indivíduo, este fantástico número de centenas de tambores luminosos, tocados em únissono, embutidos em réplicas de antigos vasos rituais de bronze, transmitiram esse colectivo de forma brilhantemente criativa, casando com extraordinária felicidade o antigo com o novo.

Eis senão quando surgem os caracteres móveis, invenção de um Magistrado de nome Wang Cheng em 1313, que encomenda a um artesão 60.000 caracteres móveis gravados em blocos de madeira. Zhang Yimou reinventa a mobilidade dos caracteres criando movimentos rítmicos e palavras, numa nova afirmação de criatividade.

O carimbo-selo chinês autenticava os documentos e era irrepetível. Os seus acidentes de gravação eram minuciosamente examinados como forma de autenticação. O próprio logotipo dos Jogos Olímpicos de Pequim assenta no carimbo-selo, que era aplicado com tinta vermelha sobre a carta ou a obra caligráfica ou pictórica. Dos caracteres móveis aos carimbos florescendo cerejeiras, vai a mensagem da riqueza cultural chinesa.

Este belíssimo quadro de marionetas representando a ópera chinesa, com músicos sobre um estrado transportado por centenas de figurantes, alude às artes musicais e de palco com extraordinária concisão e sem excessos desnecessários.

Novo quadro aludindo às viagens do Almirante Zheng He que comandou navios gigantescos durante a dinastia Ming tendo chegado às costas de África. De novo um momento fantástico no qual os remos ora ondulam ora remam em direcção ao Ocidente.Sem confrontos, a China lembra que também viajou até à África Oriental. Contudo há teorias de que Zheng He teria feito muito mais. Veja aqui. Pessoalmente não tenho opinião formada.

Diagrama comparativo de um barco chinês com uma caravela Portuguesa. Nós descrobrimos o caminho Marítimo para a Índia, de um ponto de vista Europeu. Tanto quanto se poderá dizer transalpino se, quem o disser, estiver em Portugal. Porque a língua não é uma geografia. É bem mais que isso.

As colunatas dos túmulos dos Imperadores Ming alinham-se perante o rolo inicial, cenário e suporte de uma cultura multi-milenar. O ninho de andorinha, belíssima sopa chinesa, igualmente continente feito de inhame frito, dentro do qual se servem camarões, cajú, e vegetais, constitui a estrutura do estádio que assim abre aos céus as delícias da cultura chinesa.

Eis o ninho construído por centenas de participantes, num notável exemplo das coreografias apresentadas.

Belíssimo momento do Tai Qi Quen (leia-se Tai Chi Chuen) onde centenas de participantes se movem em círculos e espirais perfeitas. Em chinês, Tai Qi significa Universo, e o número começou com alguns participantes a moverem-se enquanto o bordo superior do estádio e hologramas mostravam energias a circular. Desde muito cedo que os Chineses, por via do Taoísmo, compreenderam que o homem é parte de um todo. Esse todo ao qual o homem pertence, é na terra a Natureza. Daí que o círculo represente o Universo, o Céu. Vem da idade do bronze da China a descoberta da acupunctura e dos sistemas de energia que percorrem o corpo humano. Foram descobertas agulhas de bronze e crâneos sujeitos a trepanações datados do período do bronze.

Tian Tan, o altar celestial, é uma construção em Pequim, devidamente orientada, onde o círculo representa o Universo ou Céu, e onde, duas vezes ao ano, os Imperadores se dirigiam para ofertar aos céus, pedindo boas colheitas.

O globo que ascende é, assim, o corolário de tudo e do Universal, aqui visto num belíssimo azul.
Spielberg retirou-se da direcção dos espectáculos. Zhang Yimou deu-lhe a legitimidade e credibilidade que só um chinês poderia dar à expressão da sua cultura. O mundo ficou a ganhar com essa genuinidade e criatividade.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Fotos do Mês






Fotos enviados por Werngard Alves