quarta-feira, 16 de maio de 2007

PONTOS DE VISTA VIII

Antes e depois – A RTP1 tem vindo a apresentar todas as 3as feiras, uma série que nos dá a comparação entre como eram as nossas vidas dantes, e como elas agora são. Apenas ainda visionei dois ou três episódios, mas deu para perceber como as memórias de um país a preto e branco, onde apenas se prosperava poupando, e com uma elevada taxa de analfabetismo, contrasta com a actualidade dos dias de hoje. É um Portugal a duas faces, em que fotografias e entrevistas daquele tempo, simplesmente falam por si. Depois, vem o corporizar de uma tão desejada modernidade através da rotura com o passado, quando já não renunciamos à nossa opinião. Algumas tendências invertem-se, põe-se ponto final a uma guerra colonial com 10 mil mortos, todos passamos a ter direito a votar, e as mulheres adquirem finalmente uma certa autonomia. Há ainda as novas auto-estradas, a reformulação do dia a dia de todos nós, a tolerância e a liberdade intocável, o triunfo da paz, a integração na Europa, a subida do nível de vida, e a forma como soubemos superar tanta coisa mais. O pequeno comércio tradicional dá lugar às grandes superfícies, e a segurança na opressão é entretanto substituída pela insegurança democrática. Mesmo assim, a distância entre o que temos e o que queremos, é ainda abismal. Não deixemos que a culpabilidade nos torne para sempre reféns de recordações mais antigas, ou pior do que isso nos afaste de vez daquilo com que sempre sonhámos!

O inadaptado – Tinha 8 anos quando pisou solo americano pela 1ª vez. Nunca criou raízes, nem pareceu capaz de se ajustar a esta nova realidade. Solitário e pouco comunicativo escrevia de vez em quando cartas de revolta, e sentia dificuldade em controlar os seus próprios impulsos. Por natureza era um inconformado. Este é o perfil deste jovem sul coreano, em tudo diferente do americano tradicional, com um grave problema social, e em permanente sofrimento. Psicologicamente vulnerável, acaba por desencadear um comportamento psicopata e matar trinta e duas pessoas, ferir outras vinte e tal, suicidando-se de seguida. Terá sido um acto final de desespero? Ter-se-á sentido uma vítima permanentemente marginalizada? E que dizer do fácil acesso às armas de fogo? A quem apontar o dedo por descurar a segurança num estabelecimento de ensino? Qual a ligação entre a cultura pela violência de vários séculos nos Estados Unidos, e este tipo de actuações? Afinal este rapaz de 23 anos ainda deixa a indicação na qual responsabiliza outros que não ele por este feito tão brutal, desviando-nos por breves instantes das atenções do sangrento Iraque. Será que o impacto mediático poderá levar a quem o venha a imitar num futuro próximo? No meio desta horrífica história há ainda a assinalar aquele professor, que sobrevivendo ao holocausto evita que a barbárie seja ainda maior, acabando por perder a vida também.

Questão maior – Levada pela curiosidade, e arrastada pela amiga Lena, acabei por lá passar num destes sábados. Deparei com um espaço dominado pelo arrojo e modernidade, repleto de inovação tecnológica, chão de madeira polido, luz natural preponderante, e condições acústicas excepcionais. Assolou-me até uma pontinha de inveja quando pensei nas salas de aula da UATI que em nada se lhe comparam, por vezes até cheirando a mofo!? Paciência, não se pode ter tudo! Alguns dos intelectuais da nossa praça discursaram sobre a cultura a bel-prazer, dissertando prolongadamente sobre a arte. E afinal o que é ela? E qual o significado de belo? Serão uma e o outro a mesma coisa? Que conceitos são estes com início na civilização grega, que parecem confundir alguns? E porquê rebuscar-lhes uma visão assim tão elitista? Pois a mim não me restam dúvidas, e foi em Roma, na viagem que lá realizei em Dezembro último, que dei de caras com Ela. Guiada pela minha eloquente sobrinha Catarina – estudante de Erasmus, deixei-me levar por esse museu ao ar livre fora, dessa cidade esteticamente eterna. Toda aquela emoção que se gerou dentro de mim define-me a Arte de uma forma tão evidente, que por si só me basta! Até que surge a música embalada pela poesia. O colega Henrique deu os acórdãos, e quem se preparou como a Zizi, que uma vez mais brilhou, ou teve vontade de recitar de improviso como um poeta popular, criou um ambiente de verdadeira libertação cultural. Pois é, tenho a dizer-lhes que se a meta era ambiciosa, sem dúvida foi alcançada. Noutra qualquer tarde de sábado, de outro mês qualquer, haverá nova sessão. Se quiser espreitar, e experimentar uma linguagem nunca antes atingida, faça como eu fiz, e apareça na excelente sala polivalente, da não menos excelente Biblioteca Municipal. A entrada é livre, e a tertúlia recomenda-se. Talvez não a todos, mas certamente a alguns! Até lá, enquanto faz contas à vida, parta para um novo desafio, e registe a sua intervenção em:
Teresa Nesler

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