terça-feira, 22 de maio de 2007

PONTOS DE VISTA IX

Maldição – Os mais jovens foram partindo aos poucos. Há muito que as portas do emprego se fecharam, e que o futuro lá deixou de existir. E para os que ficaram acima dos 60, os dias vão-se passando devagarinho, a falar-se das hortas e dos animais, com uma pinguita do vinho da adega à mistura. Apesar das casas chegarem e sobrarem, as estradas não ajudam a quem ainda lá sonha viver. O número de alunos diminui, o ensino básico deixa de existir, os clínicos de saúde escasseiam, os correios fecham, as propriedades agrícolas decrescem, a fixação dos jovens é nula, e apenas alguns ainda regressam no verão. Para trás ficam uma série de vilas esquecidas por esses montes e serras de Portugal, sem a rede de transportes de outrora – penosos quilómetros que as carreiras antigamente erradicavam. A agricultura perde o fulgor, o cenário é de um silêncio quase absoluto, e o panorama consternador. Afinal quais as verdadeiras necessidades do interior? Como mudar este rumo, quando tudo se parece esvaziar? A situação é preocupante, mas certamente que os municípios terão ainda um papel preponderante em recuperar alguma da população perdida. Sejamos mais inteligentes na utilização dos recursos, acreditemos numa gestão mais eficiente, incentivemos o investimento, desbravemos caminhos e rasguemos estradas, criemos subsídios, promovamos a formação técnica, ponderemos um ordenamento do território mais rigoroso, apostemos na terra e noutras estruturas, e talvez ainda consigamos estancar a desertificação humana total. Se não, não tarda e não encontraremos vivalma, e os poucos que por lá restarem estarão para sempre condenados.

Identificado – Há algumas semanas que o descobriram a pulular pelo universo afora. De composição rochosa, a sua temperatura varia entre os 0º e os 40º Celsius, o que lhe permite a existência de água no seu estado líquido, tornando-o habitável. Dizem que um ano pelas suas paragens dura apenas 13 dias, o que o coloca numa enorme correria! Pois é o Gliese 581b para já parece-me um planeta stressado, cujo nome não terá como tantos outros origem na mitologia grega. Orbita outro sol muito mais pequeno, e menos quente que o nosso - uma estrela da constelação Libra, com a original particularidade de ser encarnada! Basta pormos os olhos no céu para nos interrogarmos como se terá formado, no meio de toda esta imensa galáxia. Uma viagem até ele levar-nos-ia uns bons milhões de anos. Mais pormenores? Calcula-se que nunca antes de 2020. Até lá deixemo-nos estar por aqui, e limitemo-nos em vaguear pela nossa santa terrinha.

1º de Maio – A tarde parecia chuvosa, e pouco convidativa a festejos ao ar livre. Perante o imprevisto deste cenário desolador, desde logo se alteraram os planos, e uma a uma as mesas e cadeiras foram-se agrupando, apenas no interior. À medida que iam chegando, uns e outros foram-se sentando aqui e ali, com quem se partilhava mais afinidades. A Associação dos Amigos de Albufeira que patrocinava o convívio em honra do caracol propiciou-os aos montes, temperados com ramos de orégãos, e servidos bem quentinhos. Jarros altos de sangria guarnecida de laranjas e limões aos quartos, não faltavam sobre as mesas. E a convivência continuava, entre um cochicho e uma canjinha caseira, ou uma gargalhada e um caldo verde. De vez em quando, a amena cavaqueira era interrompida, quer pela Nazaré que graciosamente ia distribuindo pelos convivas os seus pastéis de bacalhau, quer pela D. Cecília que nos brindava com as suas deliciosas pataniscas. Cada qual orgulhosamente nos dava a provar o seu produto hortícola, ou a especialidade de família, muitas vezes legada por mães e avós, como se de uma feira de vaidades se tratasse. Também não faltaram as sobremesas, e novamente a sericaia da Lena bem polvilhada de canela com doce de ameixa de Elvas foi sucesso garantido, o que prova que não é só de software que ela entende, mas tem também mão de doceira! No final os Kaskasdalho encerraram a noite em beleza, embalando-nos com os mais belos cantares de Portugal. Como não assisti à actuação em Tavira, fui positivamente surpreendida pela alegria e afinação deste grupo magnificamente ensaiado pela professora Helena Carmo. Uma vez mais a Lena, desta vez sem tripé, deambulou e filmou, e eu escrevi para que na posteridade fique o registo. Tal como eu, esteja atento aos fenómenos que o rodeiam, e seja totalmente livre para dizer o que pensa, utilizando o nosso blog como veículo da sua opinião em

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