terça-feira, 29 de abril de 2008

OS PESCADORES

Eu, caminhando sobre a areia molhada, fui ver a faina dos pescadores a recolherem o peixe pescado durante a noite. Ficava de olhar regalado e em silêncio a contemplar aquelas figuras de ébano, esguias e fortes, envernizadas de suor, com trapos à cintura e panos na cabeça a puxarem as cordas para retirarem do mar as pirogas carregadas ou as redes prenhas de peixe.Em esforço conjugado com as mulheres e as crianças, diligentes e ritmados, iam cantando uma melopeia lenta. As mulheres, para que os barcos pudessem rolar sem se enterrarem, colocavam troncos de madeira na areia.Ali, em silêncio, olhava os pescadores, as mulheres, as ondas e o horizonte.
Tentava adivinhar o que haveria para lá daquela linha onde acabava o mar e começa o céu. Imaginava praias, gentes, serras, cidades e mundos…Talvez por ter nascido na serra, muito longe do mar, tinha pelo mar, fascínio, atracção e deslumbramento que nunca fui capaz de explicar; só o contemplá-lo me dava paz e serenidade.Tal como acontecia todos os anos quando via cair o primeiro nevão. Regalava-me a ver os farrapos gordos de neve a tombarem serra acima, confundindo-se no céu esbranquiçado.
Na linha do horizonte da praia, ao meio-dia, começaram a formar-se as nuvens; ao meio da tarde, descarregavam grandes chuvadas e traziam as muitas trovoadas que troavam durante a noite.
Regressámos a casa para almoçarmos.
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In: "O CAÇADOR DE BRUMAS - Por esta vida acima"

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