Na sua vida atravessou várias batalhas, não só as pessoais como também viveu as consequências das duas grandes guerras mundiais.
Mulher Transmontana vem viver aos 30 anos para Lisboa, tendo passado a sua infância e juventude em terras pobres e agrestes onde se vivia das parcas agriculturas e da pastorícia, habituando-se a lutar pelo pão nosso de cada dia, isso transmite-lhe parte das forças que toda a sua vida a encoraja e nunca se deixa vencer, sem sentimentos de avareza sustenta e encoraja os que a rodeiam, evita-lhes os “medos”, oferecendo-lhes a calma e fé nas piores circunstâncias.
Mulher inteligente de aspecto forte, destemida, trabalhadora, dedicando aos seus a sua vida, o seu trabalho.
A par destas qualidades tinha uma fé inquestionável, plena de profundos sentimentos sinceros que a faz aceitar com resignação o que a vida lhe oferece, o bom e o mau.
Tudo o que acontecia vinha por vontade de um Deus soberano, de uma força superior, estava fora de questão não o aceitar.
Assim, relembro-a, como uma pessoa que não se revolta, não faz injúrias e que mantém uma calma devota nas piores situações, esta mulher que mal sabia ler, era uma sábia de “vida”.
E o relógio da avó Rosa? -Já conto… O relógio da avó Rosa era um dos três valores estimativos que a mesma não partilhava com mais ninguém, tinha por este um especial gostar, era um dos seus bens, a sua riqueza.
Um destes bens, eram as suas doze agulhas em metal amarelo, de fazer croché e tricôt, com as quais trabalhou muitas meias para a família, muitas rendas para enxovais, as suas rendas para enfeitar lençóis de cama eram tão gabadas pela perfeição, os seus “cantos” eram muito elogiados.
A sua tesoura era também uma relíquia a que nós apelidávamos do seu “tesouro”tal era a valorização que ela lhe dava, na verdade a tesoura era uma preciosidade de objecto.
Mas, o relógio da avó Rosa era já um amigo, um confidente, um companheiro de longa data, com ele foram compartilhadas muitas alegrias e tristezas, muitas noites de insónia, melhor que ninguém ele guarda o segredo de um olhar, nele se reflectem muitos estados de espírito, por vezes um espírito atormentado de incertezas que deposita nos seus ponteiros o tempo de espera, a pausa para melhores momentos, pois com o passar do tempo, tudo se resolve, com o tempo tudo passa…
Hoje, esse relógio, continua a ser uma mais valia pois guarda inúmeros segredos dos quais só ele é o grande senhor.
Este pequeno conto é uma homenagem a essa grande mulher que só morrerá quando for esquecida.
Helena Urceira - Aluna da UATI
4 comentários:
Os meus parabéns à Lena pela bela homenagem à avó. Ainda bem que aceitou o desafio. Valeu a pena, porque não só daqui para a frente passamos a contar com mais uma colaboradora de peso, mas também com mais uns deliciosos «contos». Obrigada.
A avó Rosa tinha a licenciatura
tirada na «Faculdade da Vida» e
transmitia os seus conhecimentos
a toda a família ,a ela devemos
grande parte do que hoje somos,
obrigada avó Rosa!
Um obrigada à minha irmã Lena que,com o seu trabalho,tornou possível divulgar a muitas pessoas um pouco da história da nossa querida avó.
Um grande beijo.
Obrigada às duas Teresinhas pelas suas lindas e sentidas palavras.
Muitos xis-corações.
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