sexta-feira, 23 de novembro de 2007

DIAS CONTADOS X

Um outro fôlego - Antecedendo o Inverno, o Outono acaba de nos trazer rápidas mudanças. Seguindo o curso da natureza, observamos o amarelar das primeiras folhas, que acabam por se alterar em tons de laranja mil, enquanto a folhagem dourada se amontoa pelo chão, e são folhas secas as que pisamos, dia após dia. A sua luz é única, e ajuda a realçar o auge da beleza de paisagens de incontornáveis tonalidades, que Monet pintou. Umas vezes chegam-nos ventos, porém noutras apenas se sente uma leve aragem outonal. Através das colheitas chega-se ao final de um ciclo, e daqui para a frente a época será de renovação. As novas tendências da moda inauguram a estação, e o aconchego é sem dúvida o que desejamos, em mais uma fascinante etapa das nossas vidas.

Outono
Outrora
Era outro

Alonso Alvarez

Encontro histórico - De momento, em Lisboa, proliferam por todo o lado. Suspensos em candeeiros antigos, em cartazes, em mega painéis, numa campanha sem precedentes, que lhes foi exclusivamente direccionada.
Segui-lhes o rasto, do Cais do Sodré à Ajuda, e foi no Palácio Nacional que fui encontrar os Romanov - a segunda e última dinastia imperial, que por 8 gerações governou o Império Russo, ostentando luxo e opulência. Ali iniciei uma viagem pelo tempo, evocando a arte e cultura de uma valiosa selecção de 600 peças do Hermitage – o segundo maior museu do mundo, depois do Louvre, e um dos mais prestigiados, que conta para cima de 3 milhões de obras, distribuídas por cerca de 5,000 salas. A exposição inaugura com Pedro, o Grande ilustrando uma série de objectos médicos, instrumentos cirúrgicos, e farmácia portátil demonstrativos do seu gosto pela ciência. Porém o apogeu é alcançado mais tarde no reinado de Catarina II, que de princesa alemã acaba por abraçar o trono, após a destituição do marido Pedro II. Mulher culta chega a corresponder-se com Diderot e Voltaire, e é ela que determinada em obter a maior colecção de pintura do mundo, vem a fundar o legendário Hermitage, de que fazem parte 4 palácios contíguos, dos quais o maior é sem dúvida o antigo Palácio de Inverno – residência oficial dos czares, e onde a cultura russa irá encontrar a sua expressão máxima.
A exibição prossegue com retratos régios, móveis, baixelas, as famosas porcelanas Lomonosov, jóias preciosas, vestidos de baile, trajes militares, e de gala bordados em fios de ouro, prata e seda, caixinhas de rapé enfeitadas com pérolas e diamantes, e na Sala dos Embaixadores uma mesa reconstitui um banquete na corte, com uma baixela em ouro, e um centro de mesa do final do século XIX, em bronze dourado e cristal, com 3 metros de comprimento. O último espaço é dedicado a Nicolau II – o derradeiro czar assassinado pelos revolucionários bolchevistas, juntamente com a czarina e os seus 5 filhos, após a revolução de 1917. A sua sala de trono veio também até Lisboa, incluindo o sofá de canto, onde toda a família foi fotografada pela última vez, além de uma encenação da capela régia e sumptuosos paramentos litúrgicos do rito ortodoxo, bem como as insígnias imperiais desenhadas pelo joalheiro Fabergé – provedor oficial da Corte desde 1882, que se vem a celebrizar pelas suas séries limitadas de ovos da Páscoa. É ainda contemplado um ursinho de peluche pertencente ao príncipe herdeiro Grão-Duque Alexei, e um trenó de criança. A cidade de São Petersburgo conhecida como «a pérola do Báltico», ou a «Veneza do Norte» mandada edificar por Pedro, o Grande em 1703, surge-nos também imponente e majestosa através de diversas gravuras – um projecto urbanístico intemporal, construído a partir de esboços de arquitectos europeus, e verdadeiro símbolo da cultura russa, na foz do rio Neva com a sua infinidade de rios secundários, românticos canais, e pequenas ilhas ligadas por mais de 400 pontes.
Tal como eu, deixe-se seduzir, e deslumbre-se por este património cultural único, testemunho da riqueza, e do requinte das cortes dos czares russos, e da sua afirmação como potência europeia. A não perder!

Teresa Nesler

Sem comentários: