segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Mendigo

Tinha fome, pálpebras baixas
Tapando as janelas da alma.
A cabeça atirada para trás
Desafiando o mundo
E a sua fome.

As mãos esgravatando
Em seus bolsos.
Um sorriso iluminou
Sua face.
Uma… moeda!

Sentou-se na esplanada
Com o à vontade de quem o faz
Todos os dias da sua vida.

Tirou com um safanão
Os cambos sapatos
Também eles famintos e sedentos.
Espalmou os pés contra
A frescura do empedrado,
Espreguiçou os seus dedos
Gozando feliz a sua liberdade.

Pediu um café
De golo em golo, saboreou-o,
Gozou o seu paladar
Sentindo o líquido escorrer
Da língua até à garganta.
Sentiu-se um ser especial.

Imaginou-se a falar,
Eram deuses, eram fadas,
Eram abraços, eram ternuras.

Sentiu-se envolto em asas,
Anteviu casas, sonhos,
Amantes… vida.

As rugas curtidas
Pelas soalheiras
Estremeceram, abriram-se
Num amplo sorriso
De satisfação resignada.

Poema de autoria da Zizi

1 comentário:

Teresa Nesler disse...

É mais um poema à imagem da Zizi - simples, falando-nos da realidade da vida, com o à vontade e desprendimento que lhe é peculiar, sempre atenta ao que a rodeia, e tal como eu, pronta a participar.
Valham-nas as Zizis deste mundo, porque os outros,sem rasgo, nem acção, simplesmente acabam por morrer de pasmo.