quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Camilo Pessanha (1867 – 1926)

Pessanha nasce em Coimbra em 1867, no ano da morte de Baudelaire, que, dez anos antes, com a sua "teoria das correspondências", havia lançado as bases do simbolismo francês na obra Les Fleurs du Mal. Em 1883 inicia os seus estudos em Direito, na Universidade do Coimbra, onde vem a tomar contacto com as novas ideias literárias, originárias de França, com expressão nas revistas Boémia Nova e Os Insubmissos. Datam dessa época os seus primeiros trabalhos literários, de pouca repercussão. Em 1890 António Nobre, Alberto de Oliveira, Júlio e Raul Brandão formam no Porto o grupo dos "Nefelibatas", ao qual Eugénio de Castro (que publica nesse ano Oaristos, introduzindo o Simbolismo, como escola, em Portugal) e Pessanha aderem momentaneamente. Já então Pessanha (de constituição física débil, por natureza) se ressentia dos anos de boémia vividos em Coimbra, onde o absinto era a sua bebida favorita e onde várias crises nervosas o haviam abatido.
Desiludido, procura uma nova vida no Oriente, para onde concorre a uma vaga de professor no Liceu de Macau onde acaba por ser colocado em 1894. Aí torna-se, durante três anos, companheiro de Wenceslau de Moraes exercendo as actividades de conservador do Registo Predial (1900), e juiz. É lá também que ganha o gosto pelo coleccionismo de objectos raros, e pelo estudo de literatura e língua chinesa. É na China que Camilo Pessanha passa os seus últimos dias acabando por morrer vítima de tuberculose pulmonar. A sua farta barba torna-se cada vez maior e desgrenhada; a sua magreza, cada vez mais mórbida; e o seu vício pelo ópio, cada vez mais forte. Os seus anos finais são certamente marcados pela obscuridade, e pela decadência moral.
Camilo Pessanha soube expor o seu drama pessoal de uma forma pouco convencional, que, certamente, terá seduzido os seus contemporâneos e as gerações posteriores. Nos seus versos Clepsidra ilustra de uma forma perfeita o quadro que vislumbra: "Eu vi a luz de um país perdido. / A minha alma é lânguida e inerme. / Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído! / No chão sumir-se, como faz um verme...". Nesse poema, "Inscrição", vêem-se, perdidos, um país (Portugal) e o poeta (Camilo Pessanha) que canta a decaída pátria.

Teresa Nesler – trabalho de pesquisa

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