quarta-feira, 14 de março de 2007

Crónicas na UATI

A Esmo ...


Nestes tempos de crise de valores, quando o interesse pessoal é o objectivo, parece ser nítida a desorientação e a confusão dos espíritos e nos princípios. Dai que seja, nas recordações e no passado, que cada qual vai procurar a sua bóia salvadora. E basta que seja. Porém, passado é isso mesmo: passado. Não volta mais. Serve apenas para podermos corrigir rumos e alimentar as nostalgias a que nós chamamos saudade. Nada mais.Mas o que me parece mais inquietante é tudo isto acontecer no tempo em que há a informação que se quiser, quando se quiser e do modo que cada um desejar. Desde as notícias do transitório e das vaidades, até ao ensaio mais profundo, desde a globalização imediata das notícias, à narrativa histórica fundamentada, a informação e o conhecimento correm por todos os lados em valados a estourar! E é isso mesmo: corre. Livre e sem tapumes. Sem que seja minimamente aproveitada. Acabara como todas as coisas nas moléculas das gotas de água infinitas que enformam o mar.Vivem-se tempos de liberdade formal e substancial. O homem pode fazer o que quiser, dizer o que lhe dê na gana, ouvir ou não ouvir, aprender ou não aprender, cumprir ou não cumprir e, sobretudo dar opinião ainda que a mesma seja infundada ou até apressada como é o ritmo do tempo que estamos vivendo.Portanto, o alarido é intenso. Ensurdecedor. Falamos todos e ao mesmo tempo. Logo, ninguém quer saber o que diz aquele outro que na praça ou no deserto clama, informa ou insulta. Mas na cidade há quem seja ouvido. Pela repetição do que lhes interessa fazem verdades. Constroem paradigmas. Dizem quem é culto ou ignorante. Quem é fino ou grosso. Quem é moderno e quem mais não é que saudosista. Insultam e avacalham quantos se lhes opuserem. Calam e ignoram quantos queiram mudar o mundo. Mesmo que tenham razão, como escreveu, um dia, o Poeta.E vêm as comparações. Basta que se tenha sido honesto para que seja o paradigma.

Bernardino Louro

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