terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

DIAS CONTADOS XV

Sinais de vida – Atraída por ela, atravessei fronteiras, e fui até ao seu encontro, ao mesmo tempo que esquecendo as horas, me lancei à descoberta de um mundo mais vasto, por vezes em exercício comparativo. Em viagem, o meu olhar ganha outro fôlego, e alonga-se nas pequenas coisas, tornando-se sensível à sonoridade. De cada ocasião a visão é diferente, e serve para me reencontrar através de novas memórias. Por mais de uma vez me inclino sobre o Mississippi, consumindo o rio de águas turvas, até à ultima gota. De atenção redobrada, parto à descoberta de New Orleans, em toda a sua complexa teia, cuja sequência fotográfica deixei registada em www.caprichodointelecto.blogspot.com.
Impossível não destacar o colorido, a presença da música sem tempo, e os aromas crioulos. São estas cores e imagens, que retenho como um turbilhão de emoções. Num momento de viragem, o ano é certamente de incertezas. Desenvolvem-se discursos de alternativa, e lá como cá, esboçam-se promessas, constroem-se ilusões, e o melhor actor em palco colecciona seguidores. A minha preferência vai para a adrenalina da competição, e qualquer previsão, neste momento, é puramente especulativa! Uma vez cumprido o sonho, e quando a linha do horizonte se começa a esbater, lentamente me vou retirando de cena. Além de guardar o máximo prazer das paisagens, e de realidades culturais diferentes, nalgumas das quais não me revejo nada, traço caminhos de volta a casa. O que ficou? Diferentes interpretações do mundo, partilha de muitos afectos, e um pedaço de mim que lá deixei, em estreita ligação com ela.

Fim de uma era - A necessidade de conhecimento fez-me voltar à Uati, mal regressei a Portugal. Com cada vez menos estudantes, foi com descontentamento, que deparei logo à entrada, com a imagem redutora de uma série de avisos, de que não haveria aulas, desta ou daquela disciplina. Ao todo umas quatro, ou cinco. O entusiasmo que me levou à aula de literatura, fez-me sentir deslocada, num universo cujo estado de alma se encontra moribundo, e a percepção do seu mau funcionamento, parece chamar por um debate urgente. É preciso encontrar respostas que limpem a imagem, e que duma vez por todas reestruturem a nossa universidade, de raiz, quando mais do que nunca, sinto que estamos por conta própria, pelos mais errantes rumos. Como se previa a situação é de crise e emergência, e demorando a afirmar-se, não terá saída airosa. Nunca houve reflexão sobre o futuro, nem multiplicidade de projectos, e naturalmente que organizar um magusto pelo São Martinho, ou bailaricos de santos populares, não requer a mesma capacidade que gerir um modelo educativo, ou uma área de saber, ainda que destinada à geração sénior! Sem sinais de esperança, num horizonte estreito, por quanto mais resistirá ainda ao tempo? Incapaz de encontrar caminhos, e nos garantir a mínima qualidade, resignada senão ao fracasso, falta-lhe lucidez, mobilização, e principalmente autonomia, para que se desenvolvam acções próprias. Resta saber se alguma vez despertará da apatia, em prol de um processo de renovação que projecte os meus, e os seus interesses. Felizmente que este espaço nos dá o poder da palavra, e a oportunidade de através de opiniões dispersas e alienatórias, nos expressarmos, para que um dia, quem sabe, num futuro mais próximo que longínquo, talvez que nada seja como antes.

Teresa Nesler

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