POEMASSaudades do vento norte,
das oliveiras e da serra,
do rio quase sem água,
nas tardes quentes da terra,
das noites frias e calmas
em marés de lua cheia,
dos gritos pelas escarpas,
do vento que ululeia
o verde dos castanheiros,
e da branca neve
que alumia
a noite aos caminheiros.
Saudades das nuvens altas,
onde pendurei o sonho,
da terra mãe,
amassada c’ o suor e pranto dos olhos,
da seara,
que o vento afaga,
do sol,
que a neve derrete,
do frio,
que sara a febre e enruga a alma das gentes,
do verde dos castanheiros,
dourados no Outono,
fazendo da terra o sonho
mas que a garra assassina em torrões transformou.
Saudades da história triste
que o Avô sempre repete.
Dos gatos, agarrados às latas,- maldade da garotada,
e do cheiro das filós, na noite da consoada.
Saudades do Armandinho,
louco de riso e de sonho: - o rei dos garotos tristes!
e do poeta Germaninho,
que tantas amores cantou
em versos loucos rimados entre a fome e a desdita.
Saudades do velho harmónio,
mais do cheiro a rosmaninho nas noites de Santo António
que perfumavam o do albergue
qu’ ía a enterrar, à tardinha,
acompanhado por um cão,
o prior,
o sacristão
e um garoto divertido que tocava a campainha.
E aquela monja tão bela, raio de sol no hospício,
que aos pobres dava amor, entre pus sangue e suor,
e nas rezas do ofício foi perdendo o riso e o viço
em silêncio e a rezar.
E aquele meu mestre, velhinho,
que na guerra foi alferes
e a tantos malmequeres ensinou a soletrar
desfiando recordações: de gazes, trincheiras e França,
ergueu pontes de esperança nos nossos corações,
tecendo futuro, ao recordar.
Saudades do homem bom que de simples foi tão grande,
Sábio. entre os mais sábios, e santo como os que são.
Saudades de sonhos belos
feitos a golpes e duras penas de quem suou pesadelos
na noite que por fim falece ante o dia que amanhece.
São saudades,
tantas,
sem fim,
Saudadesao entardecer da jornada,
nos dias, quase sem data, que se afastam de mim,
e já amanhece a alvorada do fim.
Alberto David
Passou Um Ano
Há 16 anos
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